Podemos definir parosmia como uma percepção distorcida dos cheiros na presença de uma fonte de odor. Infelizmente, na maioria dos casos, esses cheiros tendem a ser desagradáveis.
Embora seja a fase que considero mais difícil durante a recuperação da COVID-19, a parosmia deve ser encarada como um bom sinal: significa que está havendo recuperação!!
Nossos nervos em regeneração ficam muito sensíveis, podendo perceber cheiros até mesmo na água encanada, que na realidade não é inodora e insípida.
A água possui uma série de compostos que normalmente não são notados, mas podem passar a ser em uma pessoa com parosmia. Usar filtros de água com carvão ativado ajuda a reduzir essas substâncias que podem desencadear um odor desagradável.
Para algumas pessoas, até mesmo o banho pode se tornar um desafio devido ao odor que a água libera.
Fazer compras em um supermercado pode ser uma experiência insuportável para uma pessoa com parosmia.
Evite ambientes com odores fortes que funcionem como gatilho para você, dê preferência a compras online sempre que possível.
A hora da refeição costuma ser um dos momentos mais difíceis do dia de uma pessoa com parosmia. São expectativas frustradas: um ato que sempre foi prazeroso se transforma em repulsivo.
Nada mais tem o sabor de antes, ou pior, tem cheiro e gosto muito ruins.
Existem estratégias para atingir uma dieta balanceada durante a fase de parosmia!
Seguem algumas dicas práticas para o seu dia-a-dia:
1. Evite os cheiros que funcionam como gatilho!
Os mais clássicos são: café, cheiro da comida sendo preparada, carnes, cebola, alho, ovos, hortelã (frequentemente a pasta de dente).
Evite pratos quentes, geralmente alimentos frios ou em temperatura ambiente são melhor tolerados.
Descubra quais são seus gatilhos para conseguir evitá-los!
2. Feche suas narinas enquanto você come.
Isso vai evitar o estímulo olfativo ortonasal e com isso evitar a parosmia.
Você pode comprar pinças nasais para natação e usar durante as refeições, como um “pregador” fechando o nariz.
Também pode usar esparadrapo com esta função.
Para saber mais sobre o olfato e o paladar acesse o artigo Como funcionam nosso olfato e paladar?
3. Seja um “detetive” dos cheiros e sabores.
Monte uma lista dos alimentos “seguros” para você neste momento. Teste diferentes tipos de alimento, de preferência aqueles mais saudáveis, orgânicos e naturais possíveis. Inclusive sabores que você nunca gostou antes, podem ser bem tolerados agora.
Se hoje um determinado sabor ainda está muito comprometido, não desista e prove-o novamente na semana seguinte. Faça um diário e anote suas sensações. Nossos sentidos estão sempre mudando!
4. Sabemos que a parosmia precisa de um cheiro como gatilho.
Tente encontrar alimentos que não tenham odores fortes e que, portanto, vão desencadear menos parosmia e os transforme em seus alimentos “básicos”. Em cima destes, você vai construindo suas refeições.
Algumas sugestões que costumam ser “toleráveis” para muitas pessoas com parosmia:
- iogurte natural;
- tofu;
- queijo;
- batatas;
- feijões sem muitos temperos;
- cogumelos.
5. Comece as refeições com um “alimento seguro” para você.
Por exemplo, um grande prato de arroz. Disponha outros alimentos, cada um em um pequeno pote separado, em torno do alimento principal.
Com uma colher, vá fazendo variações nas proporções de cada complemento que será adicionado ao alimento de base e experimentando se a mistura ficou tolerável.
Isso evita o desperdício caso algum dos alimentos esteja funcionando como gatilho para a parosmia.
6. Encontre alimentos com cheiros fortes que consigam mascarar algum eventual cheiro ruim.
Sugestões: algumas especiarias como canela, um sabor ácido como o limão, um molho picante, azeitonas.
As azeitonas são ricas em umami: um gosto prazeroso que não costuma ser perdido em pessoas com transtorno de olfato, porque é percebido através de receptores gustativos na boca.
Outros alimentos com bastante umami são: molho de tomate, queijo parmesão, molho de soja. Eles costumam intensificar experiências de sabor.
7. Alimentos cozidos tendem a ser melhor tolerados que assados ou fritos.
Quando os alimentos ficam marrons durante o cozimento, acontece um processo que libera compostos voláteis que reforçam os aromas e isso pode funcionar como um gatilho para pessoas com parosmia.
Experimente: frango cozido apenas em água e fatiado frio em um sanduíche, peixe cozido no vapor.
Atenção: Frango assado costuma ser um forte gatilho de parosmia!
8. Cozinhe ao ar livre quando for possível!
Abra as janelas. Ligue ventiladores na cozinha.
Em um ambiente aberto, os cheiros se dissipam pelo ar e cozinhar torna-se mais tolerável.
9. Estratégia sensorial!
A experiência da alimentação inclui não apenas os cheiros, mas também os gostos (salgado, doce, ácido, amargo e umami), cores, temperaturas, texturas, barulhos.
Exemplo: barulho da crocância de uma maçã.
Todas essas sensações nos trazem em conjunto o sabor da comida e devem ser exploradas ao máximo quando o paladar ou olfato não trouxerem mais tanto prazer.
Textura
Tente se concentrar na textura da comida. Mude sua atenção da busca ou antecipação do sabor para a experiência da textura.
Isso não se refere apenas a se a comida é crocante ou macia, mas também variações de tamanho, formato, tipo de crocância, como você sente o alimento se movimentando na boca.
É uma estratégia de mindfulness, de mudança do foco de atenção. Adicione castanhas em uma salada, por exemplo.
Evite alimentos ultraprocessados, que geralmente perdem textura e são pobres nutricionalmente.
Cor
Começamos a comer com os olhos e geralmente os alimentos coloridos possuem maior valor nutricional! Podemos até mesmo antecipar o gosto de algum alimento de acordo com a cor que ele possui.
Há estudos que mostraram que colocar a comida em um prato vermelho o deixa levemente mais “adocicado”. Se você colore um alimento de azul, isso faz com que se torne mais repulsivo.
Até mesmo a cor dos talheres pode influenciar na percepção do sabor!
A comida pode ficar mais apetitosa se estiver em um prato preto do que em um branco, por exemplo.
Capriche em uma apresentação bonita do prato, isso pode ajudar bastante se você estiver sofrendo com uma diminuição ou distorção de paladar.
10. Não podemos esquecer que a parosmia inclui diferentes fases.
Em alguma delas, tudo pode parecer estranho e horrível, o cheiro é insuportável, pode lembrar esgoto ou cheiro de podre.
Nesse momento, chega a ser impossível pensar em texturas, temperaturas, treinamento olfativo e muitos pacientes podem perder peso e ter seu aporte de nutrientes gravemente comprometido.
Nestes casos, é fundamental buscar atendimento médico e o uso de alguns remédios pode ser necessário. Podem ser prescritas bebidas sem sabor que substituem refeições, também conhecidas como “Meal Replacement Shakes”. Precisam apenas ser misturadas com água e engolidas para oferecerem o aporte diário de nutrientes necessários.
11. Busque ajuda psicológica!
Muito do que identificamos como sabor de um alimento vem da nossa “antecipação” através das memórias que temos de experiências anteriores.
Com frequência a parosmia evolui com transtornos emocionais associados, como ansiedade ou depressão.
Os momentos das refeições são momentos de forte interação social e criação de laços afetivos e nas pessoas com parosmia, apenas imaginar um desses momentos pode levar a uma crise de pânico e muita angústia.
Cuide da sua saúde mental!
12. Seja claro e sincero com familiares e amigos em relação ao que está acontecendo.
A maioria das pessoas não consegue compreender a gravidade de um transtorno de olfato até que seja acometida por ele.
Explique o que você sente em situações difíceis durante convívio social:
“Sinto muito, mas tenho um transtorno de olfato, isso foi consequência da COVID-19 e não consigo tolerar o cheiro da cozinha ou de perfumes fortes.”
E distancie-se da situação desagradável em que você se encontrar.
É fundamental o apoio de todos os membros da família, talvez seja preciso que eles deixem de comer alguns tipos de pratos durante a fase da parosmia, deixar de usar perfumes, deixar de usar torradeira em casa.
Devem incentivar o treinamento do olfato! É um longo trajeto, com certeza você vai passar por dias ruins e vai precisar de muito apoio da família.
13. A perda de prazer com comida e perfumes.
Essa perda leva a um estado delicado emocionalmente, que não deve ser minimizado.
Não se deixe abalar por comentários pouco empáticos que subestimem os impactos do transtorno de olfato na sua vida.
É fundamental que você encontre sua paz de espírito para conseguir passar por esse momento difícil. Seu corpo precisa deste tempo para conseguir se recuperar e um bom estado emocional vai fazer toda a diferença durante este longo processo.
Você deve se dar ao direito de ficar tão abalado quanto for necessário, viver seu luto, para conseguir se erguer e encarar esta nova realidade.
14. O sentido do olfato
Muitas coisas que fazemos para nos sentirmos melhor em um “dia ruim” envolvem o sentido do olfato: abraçar uma pessoa querida, tomar um café, tomar um banho quente, todos esses momentos trazem “prazeres olfativos” que aumentam seu nível de conforto.
E quando você não tem mais esse recurso?!
Músicas devem estar bastante presentes na sua vida! Busque sempre que possível estar em ambientes abertos, em contato com a natureza.
Há outras maneiras de ter prazer que não passam necessariamente pelas vias olfatórias!
Fontes:
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